Dias nublados
É sVejo jovens advogados, empresários,
engenheiros acompanhados de seus pais prestes a se aposentar. Pais também
advogados, empresários, engenheiros. Entram nos bancos, em lojas de aparelhos
eletrônicos. Atravesso a XV. O vento às vezes é um leve beijo de mãe. De
quem descendo, não tento fugir. O destino não feito alguém que esperasse o
troco. Nem mesmo sei se tenho saudades dos familiares. Aos poucos foram saindo
de cena, expulsos da vida para dentro da terra. Assim será com todos: terra ou
fogo. Em nosso caso, terra. Cana, milho, batata, isso, terra, sobrevivência. No Natal vendíamos leitões
encomendados. E galinhas ajudavam ao longo do ano.
Galinhas a ciscar aqui, ali, sem dar para o fato que engordavam para cumprir
sua fatalidade de destino para além do galinheiro junto da polenta. Somos nós os humanos, alguns,
um tanto galinha, outros mais para polenta. E leitões. Logo abatidos. Penso morte e a
imagem que se faz é a do sol qual uma manta a escorregar lentamente de suas
pernas conforme recua o entardecer na direção da noite que vem se colocando em
pé. Breno ancião. Levantada e saída de seu corpo mole, como se de uma dessas
experiências da projeciologia, a esperança o olhasse criticamente, à distância.
Isso, a esperança e o cachorro, ambos ao lado do vô Breno, vigiando o seu ócio.
E este cheiro, de qual dos três? Do velho-sopa? Do cachorro, da esperança?
Horas e horas de silêncio, nem sequer os seus vá bene,
vá bene, a si mesmo, segurando pela
asa a xícara de ferro, vazia, no colo. Até que, como se voltando à vida
novamente com sua voz grave, estragada, a
abalar o silêncio
a cidade e os odores da
manhã.
está esfriando, Bona, melhor a gente entrar.
Com dificuldade levanta seus cento e vinte
quilos e entra na casa, o cão e a esperança atrás. Então penso esperança:
sobrevivência. Sobrevivência, penso terra.
Terra: enterro.
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